Sotãos, escadas, caminhos...




Era no sótão, acima do pequeno celeiro, que eu levava meus amigos, os gatos       e também meus desafetos, as galinhas.
Quase nunca eu conseguia chegar lá em cima com eles, que fugiam no meio do caminho, tropeçando escada abaixo...  
 Eu ficava desolada...   pra mim, o sotão era o melhor lugar da casa da minha avó, eu podia ver o mundo todo de lá e me sentia tão grande, era um desafio....     lá embaixo, os adultos pálidos, até que eu chegasse ao chão sem arranhões...


Mais tarde, mais mocinha, agora na casa de uma nova avó, emprestada...  novamente, as estreitas escadas e um pequeno sotão, cheio de lembranças daquela doce senhora, que por solidão compartilhava comigo os sons, os risos, as emoções e brincadeiras, as lembranças de seus filhos, agora adultos e em outras casas...


Adulta, descubro que meus sótãos, minhas escadas, não diferem muito daqueles do passado, que continua sendo meu refúgio, lugar de sentimentos onde levo meus amigos e amores, minhas pequenas tragédias, e meus triunfos... só que agora, interno, parte de mim, do meu peito...

"Não desças os degraus  dos
sonhos. Para não despertar os monstros!
Não subas aos sótãos -
Onde os Deuses, por trás de suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma..
Não desças, não subas, Fica!
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco esse nosso mundo..."

Mário Quintana

Comentários

  1. quisera descer os degraus
    nem monstros falam comigo,
    despertos, pelo menos ficam mais perto...

    enquanto isso rememoro antigos saraus
    ouço minha própria voz
    em poemas poucos
    (soluço atroz?)
    onde ao menos máscaras caem e ouço
    cada caco de Deuses se desprendendo

    ficar é tudo o que me limita
    e aprendo:
    desligo o que grita
    o que agita
    aquele que me fita
    e me deixa aflita

    o sótão é longe
    mas subo
    subo para adormecer
    esse mês de agosto

    (embora seja janeiro)

    Klara Rakal
    23 01 2012

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