Yoga


Encontrei esse texto num site, e adorei!
Excelente analogia do Yoga e o Surf.
O site: Satsangaonline



É comum se referir as pessoas dentro da espiritualidade como um grande mestre, uma pessoa muito evoluída, estudioso ou até mesmo iluminado. Como identificar uma pessoa evoluída? Como faço para ter sucesso no meu caminho espiritual?
Sucesso em qualquer campo de conhecimento é um produto natural da dedicação e paixão pelo que se faz, entretanto no Yoga os padrões normais do que é considerado sucesso e como obtê-lo são diagonalmente opostos ao que estamos acostumados.
Crescemos aprendendo que para vencer precisamos nos sobressair. Afinal, são os melhores que entram nas faculdades, os mais eficientes recebem os melhores salários. Quanto mais fama, mais poder e quanto mais poder, maior eu me torno. Assim, vou avançando na fila da vida com cada vez mais “sucesso”.
Quando entramos para o Yoga naturalmente adotamos esta mesma postura. Queremos toda atenção do nosso professor, ser reconhecidos o tempo todo pelas nossas aptidões, decorar o nome das posturas e damos risadas das pessoas que não sabem pronunciar Shirshaasana! Enquanto nos alongamos, nos comparamos com os colegas, mesmo que eles já tenham anos de prática ou sejam ainda iniciantes, e no final da prática competimos na duração do OOOOOOOOOOOOOOOOMMM, sem saber que OM tem apenas 3 tempos.
No final do mês achamos que estamos ganhando alguma coisa, afinal estamos nos sobressaindo e ficando de certa maneira conhecidos e famosos, até que alguém conta para gente que, na verdade:
A fila está andando para o outro lado!!!
Yoga enquanto prática física, estudo filosófico ou estilo de vida tem como objetivo tirar a mente do vício competitivo, de largar todos os papéis e expor as limitações da individualidade, que foi sempre tão polida e preservada, para que ela se torne inofensiva e a pessoa com auxílio dos Vedas veja sua real identidade. Assim podemos aprender vários mantras e muitos asanas, mas se a mente continua se julgando superior porque é capaz de fazer alguns truques a mais, o propósito do Yoga não está sendo alcançado de fato.
Para não ser fatalista ou categórico é importante saber que esta mudança não é simples e todos passam por isso. Ser capaz de reconhecer e entender a necessidade desta mudança de atitude já é uma grande coisa e um passo importante nesse caminho.
Dentro da tradição védica a vida de uma pessoa não é descrita como uma corrida ou competição, onde é preciso chegar na frente. Na Brhadaranyaka Upanishad é dito que o samsara provê variedades de obstáculos que são como ondas do mar, que estão constantemente vindo e a maturidade que estamos buscando é saber lidar objetivamente com essas ondas, para encontrar “a pessoa simples e feliz” que já somos.
Podemos dizer que os obstáculos têm 3 tipos de intensidade comparados com os 3 tipos de onda que o surfista enfrenta: “a marola, a arrebentação e o paredão”. (Essa parte não está na upanishad!)
Os problemas tipo marola são aqueles que travam nossa ação. Situações que apesar de simples nos deixam desconfortáveis. Quem quer entrar no mar tem que enfrentar o choque térmico da água fria, são questões e problemas que parecem até pequenos para quem já passou por eles. Exatamente como a marola que depois de vencida é inofensiva e só assusta crianças. Com este tipo de onda é só ter a coragem de se jogar e pode bater de frente porque esse obstáculo é inofensivo.
Quando passamos desta faixa do mar encontramos a zona de arrebentação, nela as ondas são maiores e com essas ninguém bate de frente sem levar caixote, é preciso baixar a cabeça e furar a onda, mergulhar na sua origem, onde ela pode ser atravessada. Esses obstáculos são aqueles que estão mais carregados emocionalmente na nossa vida e já definem nossa personalidade. Este tipo de problema é muito bem tratado pela psicologia e terapias, analisando a origem e as reações, e descarregando a energia contida nessas memórias.
O terceiro tipo de onda é o paredão. Nesse tipo de onda não existe ação para ser tomada, bater de frente é uma piada e mergulhar é totalmente inviável. É o ponto cego da nossa personalidade ou onde o condicionamento é tão forte que mesmo vendo não é possível agir de outra maneira, é o limite humano da própria mente. Quando entramos nesse tipo de estado ou situação só há uma coisa a fazer: rezar e tentar minimizar os danos. Se o surfista for experiente essa é melhor onda para surfar e até que isso seja possível tentamos manter a cabeça fora dágua e minimizar os danos quando esse tipo de onda vem. Quando as emoções dominam a mente trazemos a visão da ordem de Isvara e não tentamos vencer ou brigar com as emoções. As emoções tem uma razão de existir um propósito na nossa história e com a ajuda desse conhecimento pode ser usada de forma positiva.
Por exemplo, a raiva por uma pessoa ou situação pode vir em paralelo com um medo ou insegurança. Para poder agir quando o medo paralisa em alguns casos é preciso fazer uso objetivo dessa energia contida na raiva. De fato, todas as emoções tem uma função no lidar com o mundo e devem ser bem vindas por nós e quem sabe conseguimos “surfá-las”(…sem cortar a cabeça de um banhista desavisado no caminho).
O auto-conhecimento em relação as nossas emoções não tem como objetivo colocar a mente em equilíbrio perfeito, inabalável em qualquer circunstância. Não é possível logicamente e nem tão pouco desejável. Com uma vida sem paixão, raiva, satisfação, ansiedade e umas boas risadas, não seríamos humanos, seríamos todos robôs ambulantes!

Essa semana Sw Saksat disse assim: “… Se você percebe que sua mente é imperfeita, perfeito! Pois afinal de contas a mente é imperfeita. Se você se frustra por causa disso, isso também está na ordem, não é incrível?!?…”
Ironicamente, já que diante das ondas somos todos iguais, a fila do caminho espiritual não parece nem um pouco com a fila “indiana”, é mais como uma fila de surfistas, todos lado a lado surfando a mesma onda, e qualquer tentativa de ser um superhumano só vai garantir uns bons caixotes! OM
Esse texto foi escrito por Jonas Masetti no site satsangaonline.

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